sábado, 25 de julho de 2009

Enquanto o braço amarra a cintura dela,

eu digo que não, eu digo que nada,

e deixo pra lá,

continua essa minha mão preguiçosa,

perdida nas finuras que toco,

enganando este peito oco que definha.

Mares nos olhos, o sorriso afugenta

essa criação loucassolitária,

mera imaginice fulana

nos dias em que tu teimas em voltar.

Zapeio canais,

desejo inatingíveis

no singelo propósito de falhar

e voltar.

Voltar para o nada que tenho,

que não ao certo tive.

Mais desgostoso inalcançável

é o que escorreu pelos dedos,

pelos quilômetros.

Saco.

domingo, 19 de julho de 2009

Ich Liebe Wallachai

Lembro de acordar cedo, colocar um casaco bonito, tomar um café quente e escovar logo os dentes porque estava na hora.

Contar os carros, piscar, piscar.

Embarcar e, sempre, sentar “na janela”.

Não digo cantar, mas falava, imaginava, via as pessoas, sorria de graça.

Despencava das nuvens e caia na revistaria.

Poderia escolher um gibi – o ouro colorido e folheável.

Novo embarque, folheares novos, a viagem dirigida de sonhos cheios de sentido.

Quão mais próximo do interior do Estado, mais dentro de mim a consciência dançava, o estado mais disperto e confortável.

Chegar lá, embrulhar as folhas na bolsinha e andar, ouvir passarinhos, andar ouvindo histórias, chutar pedrinhas, andar mais um tanto, sorrir quando os grandes perguntavam: “É a metchie?”

Ver de longe a casa da vó, prometer corridas com as “cocós” da tia Elvira, desbravar caminhos que, para aquelas pernas curtas, pareciam enormes e infindáveis.

Abraçar, procurar “mintzias” embaixo do fogão a lenha, agarrar uma cuca do prato e correr atrás da mãe das tias que vão ao mercado, atravessando um caminho de verde, pedras, flores e tal.

Brincar, rolar na grama, não alcançar na pia.

Pular na frente da janela aos berros de “c’moin”, embarrar muito as sapatilhas, catar florezinhas de brejo e pôr num copo.

Mastigar balas de caramelo escondido – ouro.

Morrer chorando e esperneando para não ir embora, entreter-se com a viagem e logo acalmar o sentimento.

Hoje, sei mais para dizer no mercado: “cligich muta toh”, “cut férria”, “c’unta”...

Não compro mais – daqueles – gibis, a viagem parece bem menor.

Os lugares mudaram, o caminho de verde, pedras e flores parece tão pequeno...

Os doces são semelhante e, felizmente, mais numerosos.

O casaco não é o mais bonito, as paradas ainda são as mesmas, mas o acento da janela é indispensável. O fogão está lá, os gatinhos não, mas são muitos os passarinhos empilhados nas árvores.

Ir à Wallachai, leia-se “Valarrái” é sempre bom, ouvir em Deutch e só entender tons de voz e continuar lembrando que eu aprendi a ler com gibi, viajando e voando.

terça-feira, 14 de julho de 2009

It’s about that day, with the cigarette

I still have stars beneath, don’t worry.

I can’t answer why (sth) is or what (sth) is. Just “no”.

self-destruction --------------- no.

[a deep feeling of understanding, or

trying to recover from some points of

view I bought… not bad, maybe sad

(many of my) “sometime learning” era]

it’s not a habit. it’s nothing.

not me, not a concept, not a rebellion.

-          A letter in a night. Probably, in march.

Furto

É cedo, eu sei.
Mas esse teu sorriso...

É um furto passar manhãs sem vê-lo.
E quando te furto um, melhor quando mais, completa-se o tempo.
Não carece de palavras,
o que mostra já inunda.
O brilho dos teus olhos,
botão, então, do meu sorriso.

Liga dos sorrisos furtivos,
é o teu.
Dos abraços (e)ternos.
Eu te furto, mas tu me ganhas.

- Frias manhãs em volta de oito de maio deste ano.

sábado, 11 de julho de 2009

Dueto sobre a Mentira - O Primeiro de Tantos..

Das mentiras conscientes, o que se extrai?

“Sou o maior mentiroso do mundo. É bárbaro. Se vou até a esquina comprar uma revista e alguém me pergunta onde é que estou indo, sou capaz de dizer que vou a uma ópera. É terrível.” (Salinger)

É bárbaro, de fato. A moral que sopra do ombro é a única borracha a agir em monumentais acasos de condução. Condição. Condenação. Que seja! É doce, “o gosto do mal – mastigar vermelho, engolir fogo adocicado” (Clarice). Livra-se de encargos de quem te procura pelo que disseste, sai-se ileso, novo, como outro, por que não? A cada mentira, remodela-se – é genial!
É triste? Apenas quando a mentira é o julgo. Mesmo com olhos pedantes, palavras embargadas, peito teso. Assim:

“Naziazeno tem medo que lhe leiam na cara essa compreensão de tudo, essa inteligência das coisas, miserável e aviltante, que tem, por exemplo, o Duque. – Ele na frente do seu leiteiro parece que possui a cara do Duque, o olhar como que se lhe fica evasivo, ele parece que está mentindo em cada palavra verdadeira e angustiante que profere...” (Dyonélio Machado)

Bárbara e triste, intencional ou fuzilada, pequena mentira...
Se de gula tantos somos levados, meninos levados, fico com o gosto doce e a leveza da nobre manipulação das palavras. 
I’m a sweet backspacer.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Sipping

Bebericando um pouco de glamour, antes que as pálpebras abracem-se:

Chapter Two

“- By the way, do you have an agent?

- No, I’ve always handled myself.

- I used to handle myself but now I prefer letting someone else do it.

- You don’t always have the choice, do you?

- We don’t always have the choice. I’m going to take you under my wing and I’m going to make sure that nobody handles you except myself.”

 Almost Chapter Three

“- You see, normally, I’d have this address in Belgravia. And what I’d do, you see, is that the people I was meeting, very important people. I’d give them this address and they’d come by to pick me up at a very specific time.

And when they got there I’d be sitting on the front steps, pretty as a picture. You see?

It always worked.

They thought it was my house. Simple.

But then the neighborhood started to go downhill. Arabs, blacks, all sort of riff-raff.

Obviously I couldn’t find myself associated with those people, so I decided to find somewhere a little more media-ish. You know, a little more me.

Little Venice.”

Colour Me Kubrick – John Malkovich 

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Letargia

Difere do normal abrir das vistas e pegar na xícara. Acorda-se, também, rolando das cobertas ao chão, esfregando os olhos e pegando suas coisas. Até mais!

“Red wine and sleeping pills, help me get back to your arms
Cheap sex and sad films, help me get back where I belong”

Você está na rua, ruma para casa, vê que não há olhos na rua. É domingo, as pessoas não estariam, como tu, acordando àquela hora. Não, as pessoas já estão arrumando os pratos na mesa, projetando saliva nos lábios na expectativa do que está por vir. Tu não. Pensa que deve voltar para casa, apesar da sede, apesar do calor, apesar de não ter nada para fazer lá.

“Stop sending letters, letters always get burned
It's not like the movies, they fed us on little white lies”

Cartas na bolsa, esperança incorrigível. Não pense mais porquê, faça porque é tempo. Nelson Moss retorna ao apartamento de Sara Deever depois de seu ‘ir embora’ já estar decretado. Volta com 12 presentes, um para cada mês do ano que sabia que viriam, com ou sem ela; haveria vida de verdade enquanto pudessem estar juntos. Sem saber quando Sara morreria, de quê valeria estar longe, imaculando momentos bons que tiveram, sem cogitar e desejar tantos outros, menores e corriqueiros, que poderiam viver? Ela amava demais a vida para deixar-se amar por alguém que teria de deixar.

“I think you're crazy, maybe
I think you're crazy, maybe
I will see you in the next life”

Reflexão físico-memorial de Sweet November, ao som de Motion Picture Soundtrack, Radiohead, pois cheguei em casa, ao final disto.
Andréia Dieter
26/04/08

Espuma Vigarista

Aproveitando o ensejo de ter assistido ao precioso “Ele não está tão a fim de você”, devo pôr na bandeja do centro da mesa a metáfora da espuma vigarista. Espuma, fofo borbulhar delicado, superficial, vezes brilhante, vezes opaco, mas sempre aerado e leve. Vigarista, aquele que faz-se passar por outrem, ou por si mesmo em versão melhorada, detentor de intenções e sem muitas cartas escrupulosas na manga. Junte as duas visões. Conseguiu? Isso aí, ele não vai te ligar. Não entendeu a conexão? Então vamos lá.

Vocês se encontram num determinado lugar, por acaso ou não, na intenção ou não, o que ocorre é: vocês acabam se falando, drinks passam por suas mãos, sorrisos mais furtivos que seus próprios olhares, qualquer acompanhar da música, ou não, e chegando a hora de despedirem-se acontecem os pseudo-sinais. Pseudo pela ambigüidade, mas são sinais; o problema reside na interpretação. São disparados os “foi bom te conhecer”, os “adorei falar com você”, os “nossa, que noite bacana”, entre os outros primos, não menos vigaristas. Ele sorriu, eu sei, até tocou sua mão enquanto pegava o cinzeiro ou simplesmente gesticulava, ele demonstrava interesse em seus assuntos, sei, entendo. Ele lhe passou seu número de telefone? Fuja. Ele pega o seu e diz que vai ligar: o-ho. Começa, então, a interminável epopéia da passagem de 24 horas. Ele não ligou: desista. Ele não perdeu seu número, não está em crise, não há tanto trabalho que o impeça de ligar SE ELE QUISER LIGAR. Mas ele não ligou. Continue a viver, procure no seu âmago a força para prosseguir, partir pra outra, talvez, esqueça-o, pronto, foi só uma saída numa noite avulsa da sua vida! Mas não, não o procure, não o cerque. É um processo mais comum do que você pensa. A prima da amiga da sua irmã recebeu a ligação 11 dias depois do primeiro encontro? Ok, ela é a exceção, não a regra. Estão casados há 7 anos? Bom pra eles! Não é a regra.

Este é um dos relatos do filme, não um fato em minha, ainda, curta vivência amorosa, mas devo concordar com os pontos, tendo em vista a superficial, rápida e espumosa condição dos encontros, relacionamentos e toda sorte de cruzamentos humanos que se fazem acontecer por aí. Vigaristas, existimos aos montes; nos mascaramos para sair, expomos de nós os melhores ângulos, ficamos todos nas pontas dos dedos quando conhecemos, organicamente, alguém que nos apraz, sumimos quando nos convém. Gostares espumosos em relações vigaristas, um jogo delicado e incansavelmente cíclico.

Aos Homens Que Amei

Amar é uma bosta.
Nem se trata do tempo despendido no processo de captura e moção ao cativeiro, não, longe disso. Falo da pior batalha: a interna. Afinal, a única parte de que se pode falar com propriedade, ter certeza a respeito e usar como termômetro na escolha das próprias ações é justamente a nossa. Nem adianta reclamar, os sinais alheios são friamente escolhidos e performados à sua livre escolha, sem moralismos e apreços tácitos.
Pense-se então, num primeiro momento, em agir da melhor forma, o clássico mofado: “como quisesse que fizessem com você”. Foda-se. Com o semelhante não funciona assim. Civilizados? Sim. Adultos? Sim. Maduros? Haha! Novamente, só podemos garantir e take for granteed a nossa parte. Ok, aja conforme julgar mais prudente para, ao menos, não ter sobrepeso na consciência. Veja até quando agüenta. É praticamente sobrehumano agir bem sempre, responder respeitosamente sempre, ser independente e frio sempre. Faltou: fingir sempre. Entenda-se por ‘fingir’ todos os trâmites desonestos para consigo mesmo, os quais, na intenção de manipular o outro e obter-lhe atenção, abrigo e um mínimo de afetividade, levam-lhe a um máximo desgaste oriundo de esforços inúteis em ver um relacionamento como um jogo. Jogue fora os manuais.
Mariana, grande amiga, anotara do filme “Terapia do Amor”: “Podemos amar, aprender com o amor e partir pra outra”. Obrigada, Mariana. Pensando desta forma, é até possível superar situações intrigantes, lacônicas e aparentemente falaciosas, vulgarmente conhecidas como “e ele nunca mais deu sinal de vida”.
Na segunda leitura d’A Insustentável Leveza do Ser, do ilustre amigo Kundera, recomendada ainda mais do que a primeira, fui internamente forçada (o momento friccionando a lembrança contra a parede) a dar cuidadosa atenção às menções ao flerte. Dizia ele: “O que é o flerte? Pode-se dizer que é um comportamento que deve dar a entender que uma aproximação sexual é possível, sem que essa eventualidade possa ser entendida como uma certeza. Em outras palavras, o flerte é uma promessa de coito, mas uma promessa sem garantia.” Obrigada, Kundera.
Agora: encerra-se aí a alegria pululante do ser em contato diverso e distante, na cama, cara a cara? “Tchau, valeu, a gente se vê”? Por que raios há tanto do que se tratar enquanto desconhecidos? Por que os olhares se procuram, as palavras se chocam, deixam os livros cair, buscam-se, olham-se, prometem-se, e tudo aquilo faz todo o sentido, alegria, busca da repetição. Batalha. Interna, vale retornar. Desfazer-se à beira do amor. (Quando já não conquistado e feito saber) Simples assim. Simples para quem? Amor? Não, obrigada. Finalize, querido Franz: “- O amor é um combate? Não tenho a menor vontade de lutar – disse Franz, e saiu.”
Andréia Dieter, 08/04/09.

domingo, 5 de julho de 2009

"Usar as perdas para refinar a tolerância"

Peguei-me pensando, mais do que sentindo, na verdade, que as últimas perdas, decepções, frustrações, como queira chamar, vieram a endurecer minha carapaça. Como que instinto de preservação, o isolamento inicial e o distanciamento posterior daquilo que lembra a perda, parecem inevitáveis. Até confortáveis! Como desejar lembrar e levar numa boa um bolo recebido horas antes de uma saída? Como encarar numa boa que as gracinhas, aquilo tudo que encaramos como ‘sinais’ de ‘ele está a fim’, não passam de meras gentilezas, flertes? Raso, tudo raso.

Melhor saída: evitar. Voltar-se a si mesmo, procurar o egoísmo justificado, aquilo que mais lhe faz bem, deixar o brilho do olhar dos ‘vocêntricos’ e pensar apenas no seu quentinho e pequeno umbigo.

Distanciamento. Reestabelecimento de metas, bem mais individuais e pontuais. Por que não? Sempre dissera que no final sobramos apenas nós mesmos, é como voltar ao começo. No entanto, os fatos tornam-se premissas, parâmetros do que não queremos mais. Provamos o azedume, então não escolhemos mais coisas de limão. Provamos a dureza, apertamos antes de morder.

Não aceitaremos comportamentos semelhantes, não acreditaremos em metade da missa que nos rezam, nem nos agradáveis elogios que tecem ao vento. Parece claro o objetivo de desacreditar para auto-preservar.

O contraste aparece quando folheia-se pastas, arquivos antigos com citações escolhidas a dedo e que, por qualquer razão que escapa à memória, devia fazer sentido naquela época e agora parece um desajeito no mundo! Li: “Usar as perdas para refinar a tolerância”, de Clarice Lispector, em seu brilhante Perto do Coração Selvagem. Lembro da obra ser fundamental em um momento antigo, de largar relacionamentos viciantes e profunda submersão. Agora, a única citação sem número de página, estava até fora das aspas!, transcrevi ou refleti durante a transcrição? Justo eu que creio que as perdas nos endurecem e amargoam, neste momento, bato a cara contra minha própria parede: não deveria estar aprendendo a tolerar, crer que as pessoas erram por suas razões inquestionáveis? Talvez deva deixar uns tijolos faltando nesta parede, aqueles em frente aos olhos. Um dia volto com uma resposta.