Peguei-me pensando, mais do que sentindo, na verdade, que as últimas perdas, decepções, frustrações, como queira chamar, vieram a endurecer minha carapaça. Como que instinto de preservação, o isolamento inicial e o distanciamento posterior daquilo que lembra a perda, parecem inevitáveis. Até confortáveis! Como desejar lembrar e levar numa boa um bolo recebido horas antes de uma saída? Como encarar numa boa que as gracinhas, aquilo tudo que encaramos como ‘sinais’ de ‘ele está a fim’, não passam de meras gentilezas, flertes? Raso, tudo raso.
Melhor saída: evitar. Voltar-se a si mesmo, procurar o egoísmo justificado, aquilo que mais lhe faz bem, deixar o brilho do olhar dos ‘vocêntricos’ e pensar apenas no seu quentinho e pequeno umbigo.
Distanciamento. Reestabelecimento de metas, bem mais individuais e pontuais. Por que não? Sempre dissera que no final sobramos apenas nós mesmos, é como voltar ao começo. No entanto, os fatos tornam-se premissas, parâmetros do que não queremos mais. Provamos o azedume, então não escolhemos mais coisas de limão. Provamos a dureza, apertamos antes de morder.
Não aceitaremos comportamentos semelhantes, não acreditaremos em metade da missa que nos rezam, nem nos agradáveis elogios que tecem ao vento. Parece claro o objetivo de desacreditar para auto-preservar.
O contraste aparece quando folheia-se pastas, arquivos antigos com citações escolhidas a dedo e que, por qualquer razão que escapa à memória, devia fazer sentido naquela época e agora parece um desajeito no mundo! Li: “Usar as perdas para refinar a tolerância”, de Clarice Lispector, em seu brilhante Perto do Coração Selvagem. Lembro da obra ser fundamental em um momento antigo, de largar relacionamentos viciantes e profunda submersão. Agora, a única citação sem número de página, estava até fora das aspas!, transcrevi ou refleti durante a transcrição? Justo eu que creio que as perdas nos endurecem e amargoam, neste momento, bato a cara contra minha própria parede: não deveria estar aprendendo a tolerar, crer que as pessoas erram por suas razões inquestionáveis? Talvez deva deixar uns tijolos faltando nesta parede, aqueles em frente aos olhos. Um dia volto com uma resposta.
hey, por onde você anda? como faço pra te encontrar? saudades :)
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