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sábado, 11 de julho de 2009

Dueto sobre a Mentira - O Primeiro de Tantos..

Das mentiras conscientes, o que se extrai?

“Sou o maior mentiroso do mundo. É bárbaro. Se vou até a esquina comprar uma revista e alguém me pergunta onde é que estou indo, sou capaz de dizer que vou a uma ópera. É terrível.” (Salinger)

É bárbaro, de fato. A moral que sopra do ombro é a única borracha a agir em monumentais acasos de condução. Condição. Condenação. Que seja! É doce, “o gosto do mal – mastigar vermelho, engolir fogo adocicado” (Clarice). Livra-se de encargos de quem te procura pelo que disseste, sai-se ileso, novo, como outro, por que não? A cada mentira, remodela-se – é genial!
É triste? Apenas quando a mentira é o julgo. Mesmo com olhos pedantes, palavras embargadas, peito teso. Assim:

“Naziazeno tem medo que lhe leiam na cara essa compreensão de tudo, essa inteligência das coisas, miserável e aviltante, que tem, por exemplo, o Duque. – Ele na frente do seu leiteiro parece que possui a cara do Duque, o olhar como que se lhe fica evasivo, ele parece que está mentindo em cada palavra verdadeira e angustiante que profere...” (Dyonélio Machado)

Bárbara e triste, intencional ou fuzilada, pequena mentira...
Se de gula tantos somos levados, meninos levados, fico com o gosto doce e a leveza da nobre manipulação das palavras. 
I’m a sweet backspacer.

domingo, 5 de julho de 2009

"Usar as perdas para refinar a tolerância"

Peguei-me pensando, mais do que sentindo, na verdade, que as últimas perdas, decepções, frustrações, como queira chamar, vieram a endurecer minha carapaça. Como que instinto de preservação, o isolamento inicial e o distanciamento posterior daquilo que lembra a perda, parecem inevitáveis. Até confortáveis! Como desejar lembrar e levar numa boa um bolo recebido horas antes de uma saída? Como encarar numa boa que as gracinhas, aquilo tudo que encaramos como ‘sinais’ de ‘ele está a fim’, não passam de meras gentilezas, flertes? Raso, tudo raso.

Melhor saída: evitar. Voltar-se a si mesmo, procurar o egoísmo justificado, aquilo que mais lhe faz bem, deixar o brilho do olhar dos ‘vocêntricos’ e pensar apenas no seu quentinho e pequeno umbigo.

Distanciamento. Reestabelecimento de metas, bem mais individuais e pontuais. Por que não? Sempre dissera que no final sobramos apenas nós mesmos, é como voltar ao começo. No entanto, os fatos tornam-se premissas, parâmetros do que não queremos mais. Provamos o azedume, então não escolhemos mais coisas de limão. Provamos a dureza, apertamos antes de morder.

Não aceitaremos comportamentos semelhantes, não acreditaremos em metade da missa que nos rezam, nem nos agradáveis elogios que tecem ao vento. Parece claro o objetivo de desacreditar para auto-preservar.

O contraste aparece quando folheia-se pastas, arquivos antigos com citações escolhidas a dedo e que, por qualquer razão que escapa à memória, devia fazer sentido naquela época e agora parece um desajeito no mundo! Li: “Usar as perdas para refinar a tolerância”, de Clarice Lispector, em seu brilhante Perto do Coração Selvagem. Lembro da obra ser fundamental em um momento antigo, de largar relacionamentos viciantes e profunda submersão. Agora, a única citação sem número de página, estava até fora das aspas!, transcrevi ou refleti durante a transcrição? Justo eu que creio que as perdas nos endurecem e amargoam, neste momento, bato a cara contra minha própria parede: não deveria estar aprendendo a tolerar, crer que as pessoas erram por suas razões inquestionáveis? Talvez deva deixar uns tijolos faltando nesta parede, aqueles em frente aos olhos. Um dia volto com uma resposta.