domingo, 19 de julho de 2009

Ich Liebe Wallachai

Lembro de acordar cedo, colocar um casaco bonito, tomar um café quente e escovar logo os dentes porque estava na hora.

Contar os carros, piscar, piscar.

Embarcar e, sempre, sentar “na janela”.

Não digo cantar, mas falava, imaginava, via as pessoas, sorria de graça.

Despencava das nuvens e caia na revistaria.

Poderia escolher um gibi – o ouro colorido e folheável.

Novo embarque, folheares novos, a viagem dirigida de sonhos cheios de sentido.

Quão mais próximo do interior do Estado, mais dentro de mim a consciência dançava, o estado mais disperto e confortável.

Chegar lá, embrulhar as folhas na bolsinha e andar, ouvir passarinhos, andar ouvindo histórias, chutar pedrinhas, andar mais um tanto, sorrir quando os grandes perguntavam: “É a metchie?”

Ver de longe a casa da vó, prometer corridas com as “cocós” da tia Elvira, desbravar caminhos que, para aquelas pernas curtas, pareciam enormes e infindáveis.

Abraçar, procurar “mintzias” embaixo do fogão a lenha, agarrar uma cuca do prato e correr atrás da mãe das tias que vão ao mercado, atravessando um caminho de verde, pedras, flores e tal.

Brincar, rolar na grama, não alcançar na pia.

Pular na frente da janela aos berros de “c’moin”, embarrar muito as sapatilhas, catar florezinhas de brejo e pôr num copo.

Mastigar balas de caramelo escondido – ouro.

Morrer chorando e esperneando para não ir embora, entreter-se com a viagem e logo acalmar o sentimento.

Hoje, sei mais para dizer no mercado: “cligich muta toh”, “cut férria”, “c’unta”...

Não compro mais – daqueles – gibis, a viagem parece bem menor.

Os lugares mudaram, o caminho de verde, pedras e flores parece tão pequeno...

Os doces são semelhante e, felizmente, mais numerosos.

O casaco não é o mais bonito, as paradas ainda são as mesmas, mas o acento da janela é indispensável. O fogão está lá, os gatinhos não, mas são muitos os passarinhos empilhados nas árvores.

Ir à Wallachai, leia-se “Valarrái” é sempre bom, ouvir em Deutch e só entender tons de voz e continuar lembrando que eu aprendi a ler com gibi, viajando e voando.

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