quarta-feira, 8 de julho de 2009

Espuma Vigarista

Aproveitando o ensejo de ter assistido ao precioso “Ele não está tão a fim de você”, devo pôr na bandeja do centro da mesa a metáfora da espuma vigarista. Espuma, fofo borbulhar delicado, superficial, vezes brilhante, vezes opaco, mas sempre aerado e leve. Vigarista, aquele que faz-se passar por outrem, ou por si mesmo em versão melhorada, detentor de intenções e sem muitas cartas escrupulosas na manga. Junte as duas visões. Conseguiu? Isso aí, ele não vai te ligar. Não entendeu a conexão? Então vamos lá.

Vocês se encontram num determinado lugar, por acaso ou não, na intenção ou não, o que ocorre é: vocês acabam se falando, drinks passam por suas mãos, sorrisos mais furtivos que seus próprios olhares, qualquer acompanhar da música, ou não, e chegando a hora de despedirem-se acontecem os pseudo-sinais. Pseudo pela ambigüidade, mas são sinais; o problema reside na interpretação. São disparados os “foi bom te conhecer”, os “adorei falar com você”, os “nossa, que noite bacana”, entre os outros primos, não menos vigaristas. Ele sorriu, eu sei, até tocou sua mão enquanto pegava o cinzeiro ou simplesmente gesticulava, ele demonstrava interesse em seus assuntos, sei, entendo. Ele lhe passou seu número de telefone? Fuja. Ele pega o seu e diz que vai ligar: o-ho. Começa, então, a interminável epopéia da passagem de 24 horas. Ele não ligou: desista. Ele não perdeu seu número, não está em crise, não há tanto trabalho que o impeça de ligar SE ELE QUISER LIGAR. Mas ele não ligou. Continue a viver, procure no seu âmago a força para prosseguir, partir pra outra, talvez, esqueça-o, pronto, foi só uma saída numa noite avulsa da sua vida! Mas não, não o procure, não o cerque. É um processo mais comum do que você pensa. A prima da amiga da sua irmã recebeu a ligação 11 dias depois do primeiro encontro? Ok, ela é a exceção, não a regra. Estão casados há 7 anos? Bom pra eles! Não é a regra.

Este é um dos relatos do filme, não um fato em minha, ainda, curta vivência amorosa, mas devo concordar com os pontos, tendo em vista a superficial, rápida e espumosa condição dos encontros, relacionamentos e toda sorte de cruzamentos humanos que se fazem acontecer por aí. Vigaristas, existimos aos montes; nos mascaramos para sair, expomos de nós os melhores ângulos, ficamos todos nas pontas dos dedos quando conhecemos, organicamente, alguém que nos apraz, sumimos quando nos convém. Gostares espumosos em relações vigaristas, um jogo delicado e incansavelmente cíclico.

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